Menos
de um ano depois do pedido de abertura do processo de beatificação de Dom
Helder Câmara, a Congregação das Causas dos Santos do Vaticano enviou uma carta
à Arquidiocese de Olinda e Recife [Estado de Pernambuco], no Brasil, afirmando
ter recebido a solicitação. Segundo o texto assinado pelo prefeito da
Congregação, cardeal Angelo Amato, é preciso aguardar o posicionamento de
outros dicastérios para poder emitir seu parecer. Caso o Nihil Obstat (Nada
Consta) seja emitido pelo Vaticano, a Igreja em Olinda e Recife terá
autorização para iniciar o processo em nível diocesano.
A
Congregação recebeu a solicitação em junho de 2014. Com o chamado "Nihil
Obstat", a ser emitido pelo Vaticano, a Arquidiocese de Olinda e Recife
poderá iniciar o processo diocesano. O passo seguinte é reconhecer suas
"virtudes heróicas". Para isso, uma subcomissão jurídica se reunirá
para estudar os textos publicados por Dom Helder em vida e analisar os testemunhos
de pessoas que conheceram o "dom da paz", como é popularmente
conhecido o monsenhor Helder Câmara.
Uma subcomissão jurídica se reunirá para estudar os textos publicados por Dom Helder e analisar testemunhos de pessoas que conheceram o "dom da paz". |
Depois,
o responsável pelo caso, nomeado pela Congregação para as Causas dos Santos,
preparará um documento chamado Positio, que recolherá os informes e estudos.
Uma vez aprovado, o Papa Francisco pode conceder o título de "Venerável Servo
de Deus”. O passo posterior é a beatificação. Ser beato ou beatificado
significa apresentar um modelo de vida à comunidade e também atuar como
intermediário entre os fiéis e Deus. Finalmente, para ser proclamado santo é
imprescindível um milagre, que deve ocorrer após a beatificação.
Dom Helder
Dom
Helder Câmara nasceu em 07 de fevereiro de 1909, em Fortaleza, Estado do Ceará,
Brasil, e teve 12 irmãos. Após entrar muito jovem no seminário da capital
cearense, se tornou padre aos 22 anos. O primeiro momento da sua vida religiosa
foi marcado pela militância junto a instituições políticas conservadoras, como
a Ação Integralista Brasileira, entre 1932 e 1937. Mais tarde, o religioso
considerou a participação como um erro da juventude. Já radicado no Rio de
Janeiro, desde 1936, passou a optar por um trabalho assistencialista, quando
fundou departamentos da Igreja voltados para atenderem aos mais necessitados.
Pelo seu trabalho em defesa dos direitos humanos, Dom Helder recebeu vários prêmios internacionais. |
Após
um longo período atuando na então capital do Brasil, Dom Helder foi enviado
para o Maranhão. Com a morte do arcebispo de Olinda e Recife, foi então mandado
para Pernambuco, onde desembarcou em 12 de abril de 1964, poucos dias após o
golpe civil-militar no Brasil. Na capital pernambucana, o religioso desembarcou
em meio a uma relação conturbada entre Governo do Estado e Igreja.
Dois
dias após a posse, Dom Helder lançou, juntamente com outros 17 bispos
nordestinos, um manifesto à Nação, pedindo a liberdade das pessoas e da Igreja.
O primeiro grande atrito com a ditadura, entretanto, ocorreu em agosto de 1969,
quando o arcebispo foi acusado de demagogo e comunista, por ter criticado a
situação de miséria dos agricultores do Nordeste.
A
partir de então, o monsenhor passou a sofrer represálias, inclusive tendo sua
casa metralhada, alguns dos seus assessores presos e com o assassinato do padre
Antônio Henrique. Em 1970, quando seu nome foi cogitado para o Prêmio Nobel da
Paz, o governo brasileiro promoveu uma campanha internacional para derrubar a
indicação, já que ele denunciava a prática de tortura contra os presos
políticos no Brasil. Também, em 1970, os militares chegaram a proibir a
imprensa de mencionar o nome do arcebispo de Recife e Olinda.
Ele
comandou a Arquidiocese de Olinda e Recife até o dia 10 de abril de 1985,
quando – por atingir a idade limite de 75 anos – foi substituído pelo arcebispo
Dom José Cardoso Sobrinho. Dom Helder morreu em sua casa, no Recife, em 27 de
agosto de 1999, devido a uma insuficiência respiratória decorrente de uma
pneumonia. Seus restos mortais estão sepultados na Igreja Catedral São Salvador
do Mundo, em Olinda.
Pelo
seu trabalho em defesa dos direitos humanos, Dom Helder recebeu vários prêmios
internacionais, como o Martin Luther King, nos Estados Unidos, em 1970, e o
Prêmio Popular da Paz, na Noruega, em 1974. O religioso é autor de 22 livros, a
maioria ensaios e reflexões sobre o Terceiro Mundo e a Igreja.
Com
informações da Rádio Vaticano e Religión Digital.
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