Margarida Maria Alves, trabalhadora rural, presidente do
Sindicato de Trabalhadores rurais de Alagoa Grande, município do Estado da
Paraíba, foi assassinada por um pistoleiro, a mando dos usineiros da região do
brejo paraibano.
O crime foi brutal.
Eram aproximadamente 18 horas e Margarida estava em frente a
sua casa com o marido e o filho, quando um matador de aluguel deu um tiro de
espingarda calibre 12,em sua face, deformando-a.
Margarida, desde 1973 ocupava a presidência do STR , e à
época de sua morte havia movido 73 ações trabalhistas de trabalhadores rurais
das usinas por direitos trabalhistas.
Esse foi o motivo do crime.
Margarida foi uma das mulheres pioneiras das lutas pelos
direitos dos trabalhadores e trabalhadoras rurais no Brasil.
Após a sua morte tornou-se um símbolo político,
representativo das mulheres trabalhadoras rurais, que deram seu nome ao evento
mais emblemático que realizam - a Marcha das Margaridas, uma mobilização
nacional que reúne em Brasília milhares de mulheres trabalhadoras rurais no dia
12 de agosto.
A Marcha das Margaridas ocorreu pela primeira vez em 2000, e
desde então teve outras edições em 2003, 2007, 2008 e 2009, sempre definindo
uma pauta de reivindicações a serem entregues aos representantes dos poderes
públicos federais.
As mulheres trabalhadoras rurais brasileiras iniciaram a sua
organização em movimentos sociais específicos, para lutarem pelo seu
reconhecimento como categoria social no ano de 1982 e, na medida em que se
consolidavam como sujeito político, ampliando as suas ações e o seu
reconhecimento público, foram se identificando como Margaridas.
Como símbolo Margarida é uma flor, mas é também luta, pois é
a líder sindical que não se rendeu às ameaças dos ricos, e afirmou preferir
"morrer lutando, que morrer de fome".
Apresentando-se como Margaridas, as mulheres trabalhadoras
rurais constroem uma identidade própria e uma sensibilidade pública utilizando
estrategicamente alguns papéis e atributos tradicionais das mulheres -
fragilidade, filhos, sensibilidade, que associa a imagem da mulher a uma flor,
a Margarida, que também é uma mulher forte, que deu a vida pela luta.
Transformam o desqualificado e frágil feminino em força e eficácia política, na
luta e nas ruas.
O assassinato de Margarida continua impune. Dos cinco acusados
de serem mandantes do crime, ligados ao Grupo Várzea, apenas dois foram
julgados e absolvidos: Antônio Carlos Coutinho e José Buarque de Gusmão Neto,
conhecido como Zito Buarque.
Os outros mandantes: Agnaldo Veloso Borges já faleceu e os
irmãos Amaro e Amauri José do Rego estão foragidos.
O assassinato de Margarida Alves, permanece entre os grandes
crimes de repercussão nacional e internacional impunes no país, tendo sido
encaminhado para a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) da Organização
dos Estados Americanos (OEA).
Justiça para Margarida! Viva Margarida Alves em todas as
outras Margaridas de todos os cantos rurais do Brasil.
Maria Dolores de Brito Mota
Socióloga e professora da Universidade Federal do Ceará
Disponível em: http://www.mst.org.br/node/10399
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